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Notas de viagem: Um passeio por Gaurama (RS)

Durante um fim de semana estive conhecendo as belezas e curiosidades do município gaúcho

Por: Canal Ideal
23/10/2021 13h45 - Atualizado há 2 anos
Notas de viagem: Um passeio por Gaurama (RS)

O destino que você vai conhecer no decorrer desta matéria é especial. Gaurama tem um elevado valor emocional para mim, pois foi ali que consegui informações importantes sobre a história de meus bisavós que ao chegarem da Alemanha no século XIX e se instalaram na região. 

O tempo passou, infelizmente não os conheci, e hoje, escrevo aqui em Chapecó, mas a minha memória está nesta cidade que me conquistou, e pela qual eu desenvolvi um apego. Sei que posso falar repetidas vezes isso aqui no blog, mas eu realmente gosto dos destinos que eu visito. Desenvolvo um apego, uma vontade de retornar. Para mim é gratificante a sensação de visitar e escrever sobre lugares que costumam estar fora do radar de jornalistas de turismo, lugares não tão conhecidos, mas com elevado valor histórico. Esse é o Notas de Viagem, é o simples fato de fazer algo por amor.

Sem delongas, vamos ao ponto central deste texto: Gaurama.


Sobre Gaurama

Gaurama está localizada a pouco mais de 380 quilômetros da capital Porto Alegre, ao norte do estado do Rio Grande do Sul. O município possui uma população estimada de 5.534 habitantes (IBGE 2019), e no início, até meados de 1944, era conhecida como Colônia Barro. Há rumores de que o nome “Barro” surgiu por conta de um grande banhado existente na região. Logo após esta data passou ser conhecida como Gaurama. Alguns anos depois, em dezembro de 1953 Gaurama conseguiu a sua emancipação e se desvencilhou do município de Erechim.

Vista parcial do povoado da Estação do Barro na década de 30. Foto: Acervo Museu Municipal Irmã Celina Schardong


 

Pelas estradas de chão e com a câmera na mão

Em uma tarde de sábado, clima frio e com um sol maravilhoso, resolvi desbravar um pouco do município de Gaurama, no Rio Grande do Sul. Peguei a estrada sentido Erechim a Três Arroios pela BR-153, antes de chegar ao trevo de acesso de Três Arroios, entrei à direita (acesso à Gaurama) e comecei a minha aventura em meio às estradas de terra. O trajeto rodeado pela natureza conta com belezas naturais e de bônus, possui construções antigas em diferentes propriedades particulares. 

A primeira meta da lista de atrativos locais era a Igreja São Paulo, uma construção histórica que está localizada na comunidade de Linha São Paulo. Como sou apaixonada por construções antigas, foi uma satisfação enorme visitar aquela construção simples, mas com uma importante história.

Registro fotográfico feito durante o passeio. Foto: Jessica Edel
 


Uma Construção Centenária

Localizada a cerca de 10 km da área central do município de Gaurama, com suas paredes brancas, janelas em tons de marrom e cercada pelo verde da mata nativa, a Igreja se destaca pela sua beleza simples e uma história de mais de 100 anos. 

Toda construída em madeira, a igreja São Paulo foi tombada no ano de 2008 como patrimônio histórico do município de Gaurama. A construção se mantém tão bem preservada graças ao apoio da comunidade, onde as famílias da região, entre colaboradores e diretoria se revezam para ajudar a mantê-la e cuidar de sua limpeza e manutenção.

Foto à esquerda: Capela Linha São Paulo na década de 20. Foto: Acervo Museu Municipal Irmã Celina Schardong. Foto à direits; Capela em 2021. Foto: Jessica Edel


Hoje, 100 anos desde a sua fundação, o seu interior bem preservado também chama a atenção. Veja algumas fotos a seguir:

Interior da capela São Paulo. Foto: Jessica Edel

 

Interior da capela São Paulo. Foto: Jessica Edel


 

Uma bela casa amarela

Localizada na comunidade de Luce Rosa entre o trajeto de Gaurama a Três Arroios, há uma casa de alvenaria com coloração amarela que chama a atenção pela sua arquitetura robusta e antiga. A construção foi fundada no ano de 1936 e pertenceu à família Sirena. De acordo com informações obtidas com moradores locais, houve uma grande participação das mulheres da família na construção, que iam até o rio que fica ao lado da casa peneirar areia.  

A casa de coloração amarela pertencia ao senhor Luiz Sirena (já falecido) e a senhora Natalina Sirena, que hoje reside em Erechim. Foi habitada até o ano de 1980, e após isso, a propriedade foi vendida. A estrada que passa ao lado da construção foi a primeira estrada construída pela companhia Luce Rosa no ano de 1910, na região da Colônia Barro (atualmente conhecida como Gaurama).

Foto à esqueda: Há cerca de três anos, havia um antigo moinho no local (ano da foto desconhecido). Foto cedida pelo Museu Municipal Irmã Celina Schardong.  Foto à direita: Casa em 2021. Foto: Jessica Edel


Localizada a cerca de 8 km da área urbana do município, a construção possui grande potencial turístico, tendo em vista a sua história e beleza, além de estar edificada em um local estratégico em meio à natureza, com uma boa infraestrutura e uma estrada em boas condições para acesso.

Infelizmente a casa não está bem cuidada e há muito lixo dentro da residência, a construção já sofreu depredações e precisaria de uma boa reforma. 
São no total três andares: o porão, onde eram guardadas as ferramentas e madeira para o inverno, o primeiro piso, onde ficava a sala, cozinha, banheiro, 4 quartos, e varanda, e também um sótão onde há mais 4 quartos. A casa possui o total de 8 dormitórios. 
 
Veja um breve vídeo da área interna da casa: 

 

Vale ressaltar que sempre é melhor pedir a autorização do dono, pois mesmo sendo antiga, um patrimônio praticamente abandonado, é uma propriedade particular e não um ponto turístico. Decidi mostrar por conta de sua história e por ser uma construção única na região.  


Paróquia São Luiz Gonzaga 

Com uma importante história no município de Gaurama, a Paróquia Luiz Gonzaga completou seu aniversário de 100 anos em 30 de agosto de 2019. A majestosa construção, está localizada em frente à praça Antônio Burin, em um dos pontos mais altos de Gaurama.  

Paróquia São Luiz Gonzaga chama a atenção pela sua estrutura robusta. Foto: Jessica Edel


Com uma importante participação na construção histórica da Colônia Barro, no início quando as famílias chegavam em busca de melhores condições de vida, a religião se tornou um amparo para enfrentar as adversidades de um recomeço. Na época, a empresa colonizadora prometia assistência escolar, religiosa e de saúde para quem comprasse os lotes na região. Era uma estratégia para fazer com que as famílias se sentissem mais confiantes em investir na Colônia Barro. A construção inicial da igreja foi uma iniciativa dos freis que chegaram à antiga colônia. No início era um pequeno barracão, após foi edificada uma pequena igreja e depois, em 1926, foi construída uma igreja maior toda em madeira (matéria-prima em abundância na época e principal fonte de renda da região). 

A Paróquia que conhecemos hoje começou a ser construída no ano de 1947, e toda a sua base foi feita ao redor da anterior, que foi desmanchada conforme as obras avançavam. Acompanhe a seguir algumas fotos registradas ao longo da história:

 

"Histórias só existem quando Lembradas”


Esse intertítulo é o lema do assunto que iremos falar a seguir:
Com um variado acervo de itens que retratam a história da comunidade, o Museu Municipal Irmã Celina Schardong foi fundado no ano de 1987. O objetivo do museu desde seu início, é recolher, classificar, fazer a pesquisa referente a história de determinado objeto, datar, catalogar no acervo, criar arquivos digitais e expor esses elementos históricos que contam a história do município e de seus colonizadores.

Localizado na área central no município, o museu conta a história de Gaurama e seu povo. Foto: Jessica Edel


Desde 2009 faz parte do catálogo Nacional de Museus, onde participa anualmente da Semana Nacional de Museus. Tal evento é realizado pela International Council of Museums (Icom). 

No ano de 2013, através do processo de concorrência pública o Município de Gaurama foi contemplado com o projeto Pró Cultura FAC dos Museus da Secretaria de Estado da Cultura, o que permitiu que o Museu passasse por uma reforma das instalações elétricas e a restauração das estruturas do local. 

A antiga Estação Barro hoje é sede do Museu Municipal. Foto: Jessica Edel


Todo o processo de restauração foi realizado em conjunto com o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul, que buscou manter as características já existentes do museu, visando conservar o acervo existente, bem como o caráter histórico-cultural da Estação Ferroviária. O espaço foi reinaugurado no dia 17 de junho de 2016.

Veja abaixo algumas fotos cedidas pela Elisiane Gnovatto Coordenadora de atividades culturais de Gaurama e uma das responsáveis pelo Museu Municipal:

Foto: Acervo Museu Municipal Irmã Celina Schardong


Para não deixar de citar um fato importante: desde 2006 o museu está localizado na antiga Estação Barro, onde a história de Gaurama (na época chamada Colônia Barro) começou a ser escrita em meados de 1910. Nada mais justo do que um espaço de tamanha importância para a comunidade abrigar um acervo com peças que auxiliam a retratar e manter viva a história do município.

Pela história dos trilhos

Construída pela empresa Belga Auxiliaire de Chemins de Fèr no século XX, mais especificamente no ano de 1910, a Estação Ferroviária Barro, bem como a Ferrovia São Paulo Rio-Grande, foi de grande importância para definir onde ficaria a Vila Barro (Gaurama). Os trilhos ligavam os centros urbanos de Santa Maria e Porto Alegre em direção ao sul, São Paulo e Rio de Janeiro para o norte.

Estação Barro no ano de 1930. Foto: Acervo Adalberto Festl e Carine Azzolini - Estação do Barro em 1936, com o agente e atendentes do trem. Foto: Acervo Associação dos Ferroviários de Passo Fundo

Com saída em frente ao museu, a estação ferroviária do município foi edificada no ano de 1910, no mesmo ano em que ocorreu a inauguração da Ferrovia São Paulo Rio-Grande. A Estação era um ponto de abastecimento de água e lenha para os trens que passavam por ali. Os mantimentos para as Marias-fumaças dividiam espaço com as madeiras que eram exportadas. 

Na época, as construções eram erguidas de forma estratégica próximas da estação. Dessa forma ficava mais fácil para que os comerciantes e colonos descarregassem sua produção. Enquanto os trilhos iam ganhando forma, muitas pessoas chegavam até a Colônia Barro na expectativa de trabalhar na construção da Ferrovia.

O local por onde caminhamos, foi palco de muitas vidas, sonhos e lembranças.

Foto à esquerda: Trem internacional passando no viaduto férreo n° 3, no trecho Gaurama-Viadutos em 1949. Foto: Acervo de Nilson Rodrigues.  Foto à direita: Ponte férrea em 2021. Foto: Jessica Edel

Em 18 de junho de 1997 se encerrava um ciclo, foi quando o último trem passou pela Estação do Barro. 

Como eu mesma digo, há muito mais do que simples trilhos, ali foi construída a história, não somente do município e de seus moradores, mas também de toda a região.  

Isso só reforça o quão importante essa ferrovia foi para a comunidade, e é até hoje. A diferença é que as cargas de mercadorias, cartas e telegramas que antes eram transportadas ao longo dos trilhos, cederam lugar para a comunidade e visitantes que se interessam em caminhar pelo trajeto de 5km onde há a variedade da paisagem urbana e natural.

 

Cascata do Salto

Em plena primavera e um calor e um calor de quase 30 graus – sei que é fichinha perto de outros estados mais quentes, mas como eu sou um pouco ‘anti-verão’, acima de 25 graus já é demais – estava com saudades de pegar estrada e ir a algum lugar interessante no final de semana. Como estava em Centenário (RS) e na primeira oportunidade não pude conhecer, fui ao Camping Bolzan.

Lucky, mascote do Notas de Viagem também gostou do passeio. Foto: Jessica Edel

O camping está localizado na comunidade de Linha São Paulo, a cerca de 8 km do centro do município de Gaurama. A entrada custa R$8,00, o local é rodeado por mata nativa e está às margens do rio Suzana, rio que dá forma à Cascata do Salto, principal atrativo local e cenário para belas fotografias. Os visitantes mais aventureiros poderão fazer trilha em meio à mata que costeia o rio. A trilha é classificada como nível fácil, então se você não tem experiência com trilhas, fique tranquila (o), pois a trilha não é difícil e é ideal para iniciantes.

O local também possui infraestrutura com serviço de bar, lanches, mesa de sinuca, tem campo de futebol, oferece passeios a cavalo, dispõe de churrasqueiras, mesas e bancos na sombra, além de banheiro e chuveiros.

Quem quiser pernoitar no local, deverá pagar o valor de R$15,00 por pessoa.
Horário de atendimento: Sábados, domingos e feriados, das 08h às 18h30.
Para mais informações você pode entrar em contato através do telefone (54) 99134 2970

O camping é um lugar ideal para quem busca um lugar tranquilo, em meio à natureza. Foto: Jessica Edel

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Nos vemos na próxima viagem!
 

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